— Fogo?
— Perdão?
— Fogo. Tem fogo?
— Ah, sim sim. Aqui.
— Valeu. Quer um?
— Não, obrigado. Eu não fumo.
— Então pra que o… o isqueiro. Pra que isqueiro?
— Boa pergunta.
— Sim, mas pra quê?
— Sei lá, boe. Depois de um tempo saindo de noite a gente fica cansado de dizer “não tenho” pra todo mundo que quer um isqueiro. Além do mais, esse é bem bonitinho.
— Uhum, é mesmo. Legal.
— Né? Besteira.
— Tem problema se eu ficar perto?
— Não, não. Por que teria?
— Tipo, você não fuma. Vai saber, né?
— Ah, não, de jeito nenhum.
— Massa, então.
— Sim, mas por quê?
— Por que o quê?
— Por que uma carteira de cigarro sem isqueiro?
— Huuum, boa pergunta.
— Né? E aí?
— Acho que eu me acostumei a pedir fogo.
— No fim das contas a gente acaba interagindo, né?
— É, pior que é mesmo. E cigarro é meio antissocial…
— Entendi.
— Hum. Foda, né?
— Nossa, demais. Eu conheci eles tem uns três anos, tocam muito.
— Trocaram o baterista, mas esse manda bem tambMEU JESUS QUE MICROFONIA!!
— Jesus… você acha que Jesus fumava?
— Oi?
— Jesus, porra. Tu acha que ele fumava?
— Desculpa, tá muito alto!! Não tô entendendo!!
— JESUS, SERÁ QUE FUMAVA?!
— Aaaaah, sim! Não sei, acho que não.
— Mas eram treze caras no rolê, contando com ele. Treze pessoas saindo de noite, cara. Alguém tem que fumar.
— Faz sentido. E uma boe, também, não esqueça.
— Ah, verdade. Essa com certeza fumava.
— Então Jesus andava com o fogo.
— Jesus? Com um isqueiro?
— Não, com fogo.
— Fogo…
— Fogo?
— Ah, foda-se. Deixa eu experimentar, então.