Cena #3

Jares
2 min readMar 13, 2020

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Maria Madalena, autor desconhecido.

— Fogo?

— Perdão?

— Fogo. Tem fogo?

— Ah, sim sim. Aqui.

— Valeu. Quer um?

— Não, obrigado. Eu não fumo.

— Então pra que o… o isqueiro. Pra que isqueiro?

— Boa pergunta.

— Sim, mas pra quê?

— Sei lá, boe. Depois de um tempo saindo de noite a gente fica cansado de dizer “não tenho” pra todo mundo que quer um isqueiro. Além do mais, esse é bem bonitinho.

— Uhum, é mesmo. Legal.

— Né? Besteira.

— Tem problema se eu ficar perto?

— Não, não. Por que teria?

— Tipo, você não fuma. Vai saber, né?

— Ah, não, de jeito nenhum.

— Massa, então.

— Sim, mas por quê?

— Por que o quê?

— Por que uma carteira de cigarro sem isqueiro?

— Huuum, boa pergunta.

— Né? E aí?

— Acho que eu me acostumei a pedir fogo.

— No fim das contas a gente acaba interagindo, né?

— É, pior que é mesmo. E cigarro é meio antissocial…

— Entendi.

— Hum. Foda, né?

— Nossa, demais. Eu conheci eles tem uns três anos, tocam muito.

— Trocaram o baterista, mas esse manda bem tambMEU JESUS QUE MICROFONIA!!

— Jesus… você acha que Jesus fumava?

— Oi?

— Jesus, porra. Tu acha que ele fumava?

— Desculpa, tá muito alto!! Não tô entendendo!!

— JESUS, SERÁ QUE FUMAVA?!

— Aaaaah, sim! Não sei, acho que não.

— Mas eram treze caras no rolê, contando com ele. Treze pessoas saindo de noite, cara. Alguém tem que fumar.

— Faz sentido. E uma boe, também, não esqueça.

— Ah, verdade. Essa com certeza fumava.

— Então Jesus andava com o fogo.

— Jesus? Com um isqueiro?

— Não, com fogo.

— Fogo…

— Fogo?

— Ah, foda-se. Deixa eu experimentar, então.

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