— Água?
— Uhum, brigada.
— Só tá um pouco quente…
— Tem problema não, meu bem.
— Tu vem de onde, hein?
— Eu encontrei o pessoal do curso lá em cima, quase que eu perco a hora do ônibus.
— Pior que, depois desse, só de meia-noite.
— Posso escorar um pouquinho?
— Claro, tranquilo. Quiser cochilar também…
— Nada! Se eu dormir eu passo do ponto.
— Mas eu não desço antes, otária? Relaxe aí.
— E se você dormir também?
— Aí a gente amanhece na garagem, suave demais.
— Hooomi!
— Queria eu, já tá bêbado em plena terça…
— Queira não, boe. Chegar em casa ainda tem coisa pra fazer.
— Pra hoje?
— Pra levar amanhã de manhã. O povo do projeto só sabe cobrar.
— Ralado.
— Você tá bem?
— Pergunta difícil, Tainá. Agora agora, tô de boas.
— E sem ser “agora agora”?
— Tô atolado de coisa do curso também, dormindo pouco e comendo mal. O de sempre.
— Tem dia que é foda mesmo, boe. Vontade de sumir.
— Você tá bem?
— Sei lá, Cauê. Agora agora?
— Assim, num geral, sei lá.
— Puts, se for “num geral, sei lá”, acho que ninguém tá bem, né?
— Pior que é.
— A vida é feroz.
— Ah, tem dias melhores…
— Tá pesando no ombro?
— Não, tá ótimo. Posso?
— Uhum.
— Puuuts!
— A gente tá onde? Falei que tu ia dormir também, porra!
— Calma, falta umas quatro paradas ainda.
— Meia-noite já, meu deus do céu.
— Da minha pra sua é pertinho.
— Melhor não, perigoso.
— Mais ainda sozinha!
— Tem certeza?
— Tenho. Eu desço com você.