Cena #4

Jares
2 min readNov 20, 2020

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Iara, de Robson Michel

— Água?

— Uhum, brigada.

— Só tá um pouco quente…

— Tem problema não, meu bem.

— Tu vem de onde, hein?

— Eu encontrei o pessoal do curso lá em cima, quase que eu perco a hora do ônibus.

— Pior que, depois desse, só de meia-noite.

— Posso escorar um pouquinho?

— Claro, tranquilo. Quiser cochilar também…

— Nada! Se eu dormir eu passo do ponto.

— Mas eu não desço antes, otária? Relaxe aí.

— E se você dormir também?

— Aí a gente amanhece na garagem, suave demais.

— Hooomi!

— Queria eu, já tá bêbado em plena terça…

— Queira não, boe. Chegar em casa ainda tem coisa pra fazer.

— Pra hoje?

— Pra levar amanhã de manhã. O povo do projeto só sabe cobrar.

— Ralado.

— Você tá bem?

— Pergunta difícil, Tainá. Agora agora, tô de boas.

— E sem ser “agora agora”?

— Tô atolado de coisa do curso também, dormindo pouco e comendo mal. O de sempre.

— Tem dia que é foda mesmo, boe. Vontade de sumir.

— Você tá bem?

— Sei lá, Cauê. Agora agora?

— Assim, num geral, sei lá.

— Puts, se for “num geral, sei lá”, acho que ninguém tá bem, né?

— Pior que é.

— A vida é feroz.

— Ah, tem dias melhores…

— Tá pesando no ombro?

— Não, tá ótimo. Posso?

— Uhum.

— Puuuts!

— A gente tá onde? Falei que tu ia dormir também, porra!

— Calma, falta umas quatro paradas ainda.

— Meia-noite já, meu deus do céu.

— Da minha pra sua é pertinho.

— Melhor não, perigoso.

— Mais ainda sozinha!

— Tem certeza?

— Tenho. Eu desço com você.

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