Fossem as flores eternas, todos dançaríamos inebriados, no balanço da exaustão das pernas. Não haveria mais guerras, nem haveria mais dor.
O amor talvez fosse outro amor, sem regras. Um sentimento de corpo inteiro que não se pode prender à palavra “amor”, tampouco a nenhuma palavra sem brechas.
Fossem as flores eternas, cessava esse banho de lágrimas, cessava esse bando de crápulas. Não haveria o sofrer…
…mas também não haveria o sentir.
O sentir, esse imperativo da vida, a única eternidade possível. A força impossível de parar, impossível de prever. O motor das noites de bar e dos pedidos de desculpa, dos divórcios e dos inevitáveis casamentos que os precedem. A coisa última da existência, a persistência em não cessar.
Fossem as flores eternas, nada haveria a se escrever. Sufocados, putas e operários e poetas e empresárias e professores e surfistas se veriam reduzidos a pedaços.