Chave 7e6. Chave 19a. Código de segurança Delta Echo/Charlie-Zulu 00000000. Foi assim, com a pressão simultânea de duas lâminas metálicas em dois mecanismos pneumáticos, que o mundo acabou.
Sirenes de todos os timbres se anunciam em uníssono, como o grito de almas condenadas à inevitabilidade do inferno. Não há o que fazer. Famílias saem de seus lares, ainda confusas pela letargia do sono interrompido, e se deparam com um novo amanhecer. Há um sol em cada cidade a trazer o fim de tudo. Em algum lugar a milhares de quilômetros dali os cadáveres ambulantes mais poderosos da – agora encerrada – história da humanidade encaram o que se desnuda, encolhidos em silos subterrâneos. Logo haverá também um sol só para eles.
O clarão preenche o horizonte e, instantes depois, encobre o firmamento. Nem mesmo o som, ainda tão distante da luz, ousa se sobrepor à imagem derradeira. Por todo o globo, janelas explodem e se desintegram enquanto globos oculares fervem dentro das órbitas. Corpos derretem como sacolas plásticas em fogueiras de lixo. O chão abandona seu lugar e sobe aos céus enquanto se evaporam os oceanos por toda parte. Nem mesmo um único grito se escuta para além do assobio cruel dos ventos que agora varrem construções e construtores da face da Terra. Os primatas que dominaram o fogo hoje devolvem ao fogo o domínio.
Quando finalmente o estrondo chegou, não havia mais quem o testemunhasse. Um ronco furioso, destoante e vazio. O anúncio gutural do fim da guerra que se iniciara 36 minutos e 14 segundos atrás. Desintegraram-se bandeiras, estandartes e muros que dividiam fronteiras. Ninguém venceu.
Algum ser vivente que agora não passa de cinzas no inverno nuclear um dia disse que um animal, quando preso em uma armadilha de caçador, é capaz de arrancar a própria perna com os dentes para sobreviver. Se ainda existisse, talvez este mesmo ser se perguntasse por que motivo irrefletido nos arrancamos de nós mesmos...
