Silêncio.
Não necessariamente o cessar de todo som. Talvez muito mais a existência de um único som, egoísta e insensível, que toma o lugar dos outros. É esse barulho de nada com qualquer coisa, essa constância em nunca mudar e preencher os ouvidos com sua ausência.
Silêncio.
Tão audível quanto se pode ser o som de um nada: as roupas roçando em si mesmas, o assovio agudo das narinas, o eco distante do pulso cardíaco. Em seguida, o abandono da iminência das palavras, seguido do quase “não-barulho” do engolir em seco ao fechar dos lábios.
Silêncio.
Mas logo cessa o eco, cessam narinas, o roçar das roupas e dos lábios. Há um único momento, de extrema e imensurável pequenez, em que absolutamente tudo cessa.
Silêncio?
Então, deitado de costas no chão, ele ouve. O som das engrenagens abissais, rangendo estrondosas sob tudo que existe, contra tudo que a ele se opõe. O som inevitável do qual o silêncio é feito. Quando tudo que é vivo resolve dormir e tudo que existe decide cessar. O som impossível, fruto do mais impossível…
…silêncio.
Nesse dito momento infinitesimal, ele jurou ter ouvido a terra girar.