Há pouco mais de seiscentas empresas, no Brasil, especializadas na gestão, compra e venda de seres humanos extremamente específicos. Esses empreendimentos, com variado grau de sucesso, fazem dos fracassos de seus semelhantes o seu veículo primeiro de publicidade. Pelo mundo, muitos outros empreendimentos de compra e venda de seres humanos extremamente específicos também assim o fazem. Às vezes é só isso mesmo.
Mas não é só isso! Essas empresas também comercializam sentimentos a clientes muito fiéis. Nem sempre são os sentimentos que planejavam adquirir, mas sentimentos de todo modo. Esse dinheiro compra cores, tecidos e ainda mais seres humanos a milhões de reais o quilo. Às vezes é só isso mesmo.
E tem mais! O produto não tem garantia, devolução ou validade. Queria Euforia, mas recebeu Ódio? Agora ele é seu por tempo indeterminado. As empresas rivais hão de sorver seu fracasso, se deliciando na sua falha ao coordenar seres humanos extremamente específicos a fazer uma tarefa extremamente específica. A clientela até talvez se organize, quem sabe, em grupos de combate. Às vezes, por incrível que pareça, é só isso mesmo.
Mas nem sempre. Às vezes, se vai ao fim por essas empresas. É a barbárie que aflora da frustração de sonhos extremamente específicos, da presença (ou ausência) de um objeto específico do outro lado de uma linha imaginária específica. Há clientes ensandecidos, dispostos a matar outros clientes igualmente ensandecidos (claro, clientes específicos) porque suas empresas se beneficiam disso. Camisetas, canecas, chuteiras e e bandeiras: tingidas do mútuo suicídio.
Às vezes é só isso. Às vezes é só futebol.